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A RESSURREIÇÃO DE JESUS: implicações para a cultura a fé e a política

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A RESSURREIÇÃO DE JESUS: implicações para a cultura a fé e a política

 

Para os cristãos celebrar a Páscoa significa atualizar, isto é, manter viva e atual a vida, morte e ressurreição de Jesus. Portanto, não podemos cair no erro daqueles que ficam olhando para o céu (At 1, 11a) a espera de ver um Cristo glorioso desconectado do Jesus de Nazaré. Conforme o discurso de Pedro no dia de pentecostes, o Cristo ressuscitado é o mesmo Jesus de Nazaré. “Jesus de Nazaré, homem de quem Deus tem dado testemunho diante de vós com milagres, prodígios e sinais (...) depois de ter sido entregue, segundo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de ímpios. Mas Deus o ressuscitou, rompendo os grilhões da morte, porque não era possível que ela o retivesse em seu poder” (At 2, 22-24). Portanto, não podemos celebrar a Páscoa do Cristo glorioso, sem fazer memória do jovem sonhador que percorreu as estradas da Galileia, da Judeia e da Samaria anunciando um novo reino, diferente dos reinos de Herodes e do imperador César Augusto de Roma.

 

Ao longo de sua vida terrena Jesus propôs uma verdadeira revolução cultural, política e religioso-social. Um dos elementos culturais da sociedade judaica do tempo de Jesus era o modelo familiar patriarcal através do qual o senhor da casa possuía o domínio e a propriedade não apenas sobre os bens materiais como também sobre a esposa, filhos, escravos e animais. Numa sociedade marcada por esse padrão cultural, não é de se estranhar que mulheres e crianças não fossem contados (Mt 15,38), pois não tinham valor em si mesmas. É neste cenário que Jesus revoluciona ao conversar a sós com uma mulher samaritana (Jo 4, 5-42), ao perdoar uma mulher que havia sido apanhada em flagrante adultério (Jo 8, 2-11), ao acolher mulheres como suas discípulas e seguidoras (Lc 8, 2-3), ao se deixar tocar por uma mulher impura (Lc 8,43-48). É neste mesmo cenário cultural que Jesus repreende seus discípulos quando estes expulsam as crianças que tentam dele se aproximar (Mt 19, 14) e também se compadece de uma criança que está à beira da morte e a cura (Lc 8, 41-42.49-56). Mais ainda, Jesus rompe com o próprio sistema familiar quando, deixando sua família consanguínea, forma uma nova família onde não há patriarca, mas irmãos (Mt 12, 46-50).

 

No campo da política o contexto era de dominação do império romano sobre o país de Israel. Essa dominação causava grandes danos a todo o país principalmente aos pequenos agricultores e artesãos/comerciantes que tinham que pagar altos impostos para manter o aparato governamental de Israel e de Roma. Quando as pessoas não conseguiam mais pagar os impostos e contraíam dívidas com o império suas propriedades eram tomadas deixando o patriarca e sua família em situação de estrema vulnerabilidade sendo que muitos passavam a sobreviver como escravos nas casas ou propriedades dos homens ricos da sociedade.

É nesse contexto que Jesus provoca uma revolução não armada, mas pacífica mandando um recado ao imperador e aos líderes políticos de seu país ao dizer: “devolvei a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mc 12, 17). Se o imposto era devido a César, era a César que o povo estava pagando, mas o povo e a terra de Israel, segundo a concepção judaica, pertencia a Deus, portanto César deveria devolver a Deus o que é dele. Afinal, Deus havia libertado o povo de Israel da escravidão no Egito não para ser escravo de outros senhores, mas para viver em liberdade. Diante deste cenário, Jesus também convoca os seus discípulos a participar dessa revolução quando diz: “sabeis que os governadores das nações tem poder sobre elas e os grandes as dominam. Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser ser grande deve tornar-se o servidor de todos” (Mt 20, 26).

 

No âmbito da fé, imperava uma concepção de Deus como o Altíssimo e o Onipotente que julga os povos, castigando os pecadores e abençoando com prosperidade os cumpridores da lei, assim chamados de justos. Neste contexto os homens letrados, também chamados de doutores da lei e os sacerdotes detinham o poder de decidir quem era puro/justo e quem era impuro/pecador. Essa estrutura religiosa produzia um grande número de pessoas que, sendo consideradas impuras/pecadoras, ficavam excluídas da aproximação com sagrado e também da sociedade. Jesus revoluciona o cenário religioso quando apresenta Deus como alguém que está mais preocupado em salvar os pecadores que em ser cultuado pelos puros/justos. Vejamos o que diz Jesus nesse contexto: “há mais alegria no céu por um só pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão” (Lc 15, 7); “Os sadios não precisam de médico, os doentes é quem dele precisam. Ide aprender o que significa misericórdia quero e não sacrifícios. Não vim chamar justos, mas pecadores” (Mt 9, 12-13). E como se não bastasse Jesus ainda apresenta Deus como um pai que não age como os patriarcas de seu tempo, mas que respeita a liberdade de seus filhos, que acolhe em seus braços e com festa aqueles que erraram e voltam para casa arrependidos (Lc 15, 11-32).

 

Foi este Jesus e esta mensagem que pregaram na cruz naquela véspera de Páscoa. A morte de Jesus representava a morte da sua ideia revolucionária que propunha uma evolução cultural, um novo modelo político e uma maneira mais amorosa e inclusiva de viver a fé. Assim, a ressurreição de Jesus, representa um ato revolucionário de Deus que não apenas fez um morto reviver, mas que não permitiu que matassem um projeto religioso, político e social. A ressurreição é a resposta de Deus àqueles que desejavam impor o silêncio opressor da morte sobre as palavras e atos daquele jovem sonhador e cheio de fé. “Jesus de Nazaré, (...) vós o matastes, crucificando-o por mãos de ímpios (...). Mas Deus o ressuscitou, rompendo os grilhões da morte, porque não era possível que ela o retivesse em seu poder” (At 2, 22-24).

 

Viva a Páscoa da Ressurreição! Viva a Páscoa da Revolução!

 

 

Pe. Emerson Cícero de Carvalho

Presidente da Cáritas Arquidiocesana de Maringá

Professor voluntário da Escola de Cultura, Fé e Política

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